13 março 2010

Depilação

"Tenta sim. Vai ficar lindo."Foi assim que decidi, por livre e espontânea pressão de amigas, merender à depilação na virilha. Falaram que eu ia me sentir dezquilos mais leve.Mas acho que pentelho não pesa tanto assim. Disseram que meu namorado ia amar, que eu nunca mais ia querer outra coisa. Eu imaginava que iadoer, porque elas ao menos me avisaram que isso aconteceria. Mas nãoesperava que por trás disso, e bota por trás nisso, havia toda umaindústria pornô-ginecológica-estética.
- Oi, queria marcar depilação com a Penélope.- Vai depilar o quê?- Virilha.- Normal ou cavada?
Parei aí. Eu lá sabia o que seria uma virilha cavada. Mas já que erapra fazer, quis fazer direito. - Cavada mesmo.- Amanhã, às... Deixa eu ver...13h?- Ok. Marcado.
Chegou o dia em que perderia dez quilos. Almocei coisas leves, porquesabia lá o que me esperava, coloquei roupas bonitas, assim, pra ficar chique. Escolhi uma calcinha apresentável. E lá fui. Assim quecheguei, Penélope estava esperando. Moça alta, mulata, bonitona. Oba,vou ficar que nem ela, legal. Pediu que eu a seguisse até o local ondeo ritual seria realizado. Saímos da sala de espera e logo entrei num longo corredor.
De um lado a parede e do outro, várias cortinas brancas. Por trásdelas ouviagemidos, gritos, conversas. Uma mistura de Calígula com OAlbergue. Já senti um frio na barriga ali mesmo, sem desabotoar nem um botão. Eis que chegamos ao nosso cantinho: uma maca, cercada decortinas.
- Querida, pode deitar.Tirei a calça e, timidamente, fiquei lá estirada de calcinha na maca.Mas a Penélope mal olhou pra mim. Virou de costas e ficou de frente pra uma mesinha. Ali estavam os aparelhos de tortura. Vi coisas estranhas.Uma panela, uma máquina de cortar cabelo, uma pinça. Meu Deus, era OAlbergue mesmo. De repente ela vem com um barbante na mão. Fingi queera natural e sabia o que ela faria com aquilo, mas fiquei surpresaquando ela passou a cordinha pelas laterais da calcinha e a amarrou bemforte.
- Quer bem cavada?- é... é, isso.
Penélope então deixou a calcinha tampando apenas uma fina faixa da Abigail, nome carinhoso de meu órgão, esqueci de apresentar antes.- Os pêlos estão altos demais. Vou cortar um pouco senão vai doermais ainda.- Ah, sim, claro.
Claro nada, não entendia porra nenhuma do que ela fazia. Mas confiei. De repente, ela volta da mesinha de tortura com uma esp átula melada deum líquido viscoso e quente (via pela fumaça).
- Pode abrir as pernas.- Assim?- Não, querida. Que nem borboleta, sabe? Dobra os joelhos e depois joga cada perna pra um lado.- Arreganhada, né?Ela riu. Que situação. E então, Pê passou a primeira camada de ceraquente em minha virilha Virgem. Gostoso, quentinho, agradável. Até ahora de puxar.
Foi rápido e fatal. Achei que toda a pele de meu corpo tivesse saído, que apenas minha ossada havia sobrado na maca. Não tive coragem deolhar.Achei que havia sangue jorrando até o teto. Até procurei minha bolsacom os olhos, já cogitando a possibilidade de ligar para o Samu. Tudo isso buscando me concentrar em minha expressão, para fingir que eratudo supernatural.
Penélope perguntou se estava tudo bem quando me notou roxa. Eu haviaesquecido de respirar. Tinha medo de que doesse mais. - Tudo ótimo. E você?Ela riu de novo como quem pensa "que garota estranha". Mas deve teraprendido a ser simpática para manter clientes.
O processo medieval continuou. A cada puxada eu tinha vontade de espancar Penélope. Lembrava de minhas amigas recomendando adepilação e imaginava que era tudo uma grande sacanagem, só pra mefazer sofrer. Todas recomendam a todos porque se cansam de sofrersozinhas.- Quer que tire dos lábios? - Não, eu quero só virilha, bigode não.- Não, querida, os lábios dela aqui ó.
Não, não, pára tudo. Depilar os tais grandes lábios ? Putz, queidéia.Mas topei. Quem está na maca tem que se fuder mesmo. - Ah, arranca aí. Faz isso valer a pena, por favor.Não bastasse minha condição, a depiladora do lado invade o cafofinhode Penélope e dá uma conferida na Abigail.- Olha, tá ficando linda essa depilação.... Menina, mas tá cheio de encravado aqui. Olha de perto.Se tivesse sobrado algum pentelhinho, ele teria balançado com arespiração das duas. Estavam bem perto dali. Cerrei os olhos e pedique fosse um pesadelo. "Me leva daqui, Deus, me teletransporta". Só voltei à terra quando entre uns blábláblás ouvi a palavra pinça.-Vou dar uma pinçada aqui porque ficaram um pelinhos, tá?
- Pode pinçar, tá tudo dormente mesmo, tô sentindo nada.Estava enganada. Senti cada picadinha daquela pinça filha da mãe arrancar cabelinhos resistentes da pele já dolorida. E quis matá-la.Mas mal sabia que o motivo para isso ainda estava por vir.
- Vamos ficar de lado agora?
- Hein?
- Deitar de lado pra fazer a parte cavada. Pior não podia ficar. Obedeci à Penélope. Deitei de ladinho e fiqueiesperando novas ordens.
- Segura sua bunda aqui?
- Hein?- Essa banda aqui de cima, puxa ela pra afastar da outra banda.Tive vontade de chorar. Eu não podia ver o que Pê via. Mas ela estava de cara para ele, o olho que nada vê. Quantos haviam visto, à luz dodia, aquela cena? Nem minha ginecologista. Quis chorar, gritar,envenená-la.Fiquei pensando nela acordando à noite com um pesadelo. O marido perguntaria:- Tudo bem, Pê?- Sim... sonhei de novo com o c* de uma cliente.
Mas de repente fui novamente trazida para a realidade. Senti o aconchegofalso da cera quente besuntando meu Twin Peaks. Não sabia se ficava com mais medo da puxada ou com vergonha da situação. Sei que ela deve vermil daqueles por dia. Aliás, isso até alivia minha situação. Porque ela lembraria justamente do meu entre tantos? E aí me veio opensamento: peraí, mas tem cabelo lá?
Fui impedida de desfiar o questionamento. Pê puxou a cera. Achei que abunda tivesse ido toda embora. Num puxão só, Pê arrancou qualquercoisa que tivesse ali. Com certeza não havia nem uma preguinha pra contar a história mais. Mordia o travesseiro e grunhia ao mesmo tempo.Sons guturais, xingamentos, preces, tudo junto.- Vira agora do outro lado.
Porra.. por que não arrancou tudo de uma vez? Virei e segurei novamente a bandinha. E então, piora. A broaca da salinha do lado novamente abrea cortina.- Penélope, empresta um chumaço de algodão?
Apenas uma lágrima solitária escorreu de meus olhos. Era dor demais,vergonha demais. Aquilo não fazia sentido. Estava me depilando pra quem?Ninguém ia ver o tobinha tão de perto daquele jeito. Só mesmoPenélope.E agora a vizinha inconveniente.
- Terminamos. Pode virar que vou passar maquininha.- Máquina de quê?!- Pra deixar ela com o pêlo baixinho, que nem campo de futebol. - Dói?- Dói nada.- Tá, passa essa merda...- Baixa a calcinha, por favor.
Foram dois segundos de choque extremo. Baixe a calcinha, como alguémfala isso sem antes pegar no peitinho? Mas o choque foi substituído por uma total redenção. Ela viu tudo, da perereca ao c*. O que seriabaixar a calcinha? E essa parte não doeu mesmo, foi até bemagradável.
- Prontinha. Posso passar um talco?- Pode, vai lá, deixa a bicha grisalha. - Tá linda! Pode namorar muito agora.
Namorar...namorar... eu estava com sede de vingança. Admito que oresultado é bonito, lisinho, sedoso. Mas doía e incomodava demais.Queria matar minhas amigas. Queria virar feminista, morrer peluda, protestar contraisso. Queria fazer passeatas, criar uma leiantidepilação cavada.Queria comprar o domínio
www.preserveasvaginaspeludas.com.br
Filha da puta foi a mulher que inventou a "cavadinha" .

*Desconheço a autoria

Nenhum comentário:

Postar um comentário